{"id":13116,"date":"2015-04-11T03:02:04","date_gmt":"2015-04-11T03:02:04","guid":{"rendered":"https:\/\/planetabiologia.com\/?p=13116"},"modified":"2022-11-23T16:40:25","modified_gmt":"2022-11-23T16:40:25","slug":"da-lua-a-marte-no-relato-de-um-explorador-lunar","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/planetabiologia.com\/da-lua-a-marte-no-relato-de-um-explorador-lunar\/","title":{"rendered":"Da Lua a Marte no relato de um explorador lunar"},"content":{"rendered":"

Em julho de 1969, a superf\u00edcie lunar ecoou com a vida pela primeira vez. Em uns 40 anos, Marte tamb\u00e9m produzir\u00e1 o mesmo eco? O presidente americano Barack Obama reafirmou as grandes metas para v\u00f4os espaciais tripulados anunciadas por seu antecessor em 2004: aposentar o \u00f4nibus espacial em 2010, desenvolver uma nova linha de foguetes (chamados Ares), voltar \u00e0 Lua por volta de 2020 e ir a Marte, talvez em meados da d\u00e9cada de 2030. O programa \u00e9 conhecido como Constellation.<\/p>\n

No momento, os pol\u00edticos est\u00e3o menos preocupados com Marte que com o tempo perdido entre o \u00faltimo lan\u00e7amento do \u00f4nibus espacial e o primeiro voo do Ares, durante o qual os Estados Unidos depender\u00e3o da R\u00fassia ou de empresas privadas para enviar astronautas para o espa\u00e7o. O que inicialmente se esperava ser dois anos passou a ser seis, e em maio, a administra\u00e7\u00e3o Obama anunciou que o \u00faltimo executivo aeroespacial, Norman Augustine, liderar\u00e1 uma revis\u00e3o do programa para avaliar como faz\u00ea-lo voltar aos trilhos.<\/p>\n

Embora Marte ainda esteja distante, finalmente a Nasa est\u00e1 projetando uma nave espacial com vistas a um voo interplanet\u00e1rio. Os planejadores est\u00e3o aproveitando a experi\u00eancia que Harrison H. Schmitt relata neste artigo. \u2013 Os editores.<\/p>\n

FOTOILUSTRA\u00c7\u00c3O PELA SCIENTIFIC AMERICAN; CORTESIA DA NASA (Lua e Marte)<\/p>\n

\"Da<\/p>\n

USANDO UMA P\u00c1 MET\u00c1LICA, especialmente desenhada, o autor colhe amostras do solo da cratera Camelot, em 12 de dezembro de 1972. Ge\u00f3logos poder\u00e3o fazer o mesmo em Marte; enquanto isso n\u00e3o acontece, eles confiam em sondas rob\u00f3ticas como a Mars Pathfinder, que explorou o Ares Vallis em 1997<\/p>\n

Montanhas maiores que as muralhas do Grand Canyon, no Colorado, erguem-se sobre o longo e estreito vale de Taurus-Littrow. Um Sol brilhante, mais brilhante que qualquer estrela j\u00e1 vista da Terra, ilumina o solo coberto de crateras, e as encostas \u00edngremes das montanhas contrastam com um c\u00e9u extremamente escuro.<\/p>\n

Eu e meu colega de tripula\u00e7\u00e3o, Gene Cernan, exploramos esse vale de aproximadamente 4 bilh\u00f5es de anos, assim como as rochas de lava vulc\u00e2nica, um pouco mais jovens, e cinzas, durante tr\u00eas dias, em 1972 \u2013 encerrando, assim, o Programa Apollo.<\/p>\n

Foi a primeira vez, e at\u00e9 agora a \u00fanica, que um ge\u00f3logo fez trabalhos de campo em outro mundo do Sistema Solar. Agora, Estados Unidos, Uni\u00e3o Europeia, R\u00fassia e outros parceiros internacionais est\u00e3o pensando em enviar astronautas para fazerem trabalhos de campo em Marte, provavelmente, nos pr\u00f3ximos 20 anos. O que ser\u00e1 comum e o que parecer\u00e1 diferente para esses ge\u00f3logos, os primeiros a presenciar o avermelhado amanhecer marciano?<\/p>\n

Muitos relatos sobre as miss\u00f5es Apollo se concentram em seus princ\u00edpios hist\u00f3ricos e em suas conquistas tecnol\u00f3gicas, mas aqueles que participaram dessas miss\u00f5es tamb\u00e9m se lembram do lado humano, o lado \u201clow-tech\u201d: caminhando pela superf\u00edcie, quebrando pedras com martelo geol\u00f3gico, carregando rochas e suportando condi\u00e7\u00f5es adversas.<\/p>\n

Qualquer ge\u00f3logo reconheceria os princ\u00edpios e t\u00e9cnicas de campo que utilizamos. Os fundamentos n\u00e3o mudaram. A meta ainda era documentar e representar graficamente a estrutura, idade relativa e altera\u00e7\u00e3o de caracter\u00edsticas naturais, assim como inferir suas origens e os recursos que eventualmente poderiam fornecer para nossa civiliza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Sair da Terra tamb\u00e9m n\u00e3o mudou os princ\u00edpios relacionados com o planejamento e execu\u00e7\u00e3o de expedi\u00e7\u00f5es, como, por exemplo, coletar e documentar amostras; ali\u00e1s, esses princ\u00edpios podem se tornar ainda mais importantes, \u00e0 medida que visitas aos mesmos lugares se tornam menos prov\u00e1veis.<\/p>\n

Particularmente, a necessidade do toque humano, da experi\u00eancia e da imagina\u00e7\u00e3o permanece inalterada ao tornar realidade valores cient\u00edficos e human\u00edsticos da explora\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Para cada novo objeto que exploramos, precisamos ter em mente a experi\u00eancia adquirida quando exploramos o \u00faltimo lugar onde estivemos \u2013 conduta que os ge\u00f3logos t\u00eam repetido na Terra por mais de dois s\u00e9culos.<\/p>\n

Devemos nos perguntar sempre o que pode ser igual e o que pode ser diferente. Como a geologia, acessibilidade e estrat\u00e9gia da explora\u00e7\u00e3o de Marte, al\u00e9m da tripula\u00e7\u00e3o mais bem capacitada, se comparam com a experi\u00eancia da Apollo?<\/p>\n

CORTESIA DA NASA (Lua)<\/p>\n

\"CORTESIA<\/p>\n

PANORAMA DO LOCAL de pouso da Apollo 17 mostra efeitos visuais que complicaram a explora\u00e7\u00e3o lunar. A luz espalhada cria um halo em torno da sombra do fot\u00f3grafo Eugene Cernan, e a falta de ar e refer\u00eancias familiares no solo fazem com que objetos pare\u00e7am mais pr\u00f3ximos que na realidade. O m\u00f3dulo lunar estava a cerca de 150 metros e a montanha atr\u00e1s dele, chamada de Maci\u00e7o Sul, a cerca de 8 km. O astronauta na foto \u00e9 o autor deste artigo. Ao montar o experimento para estudar as propriedades el\u00e9tricas superficiais, ele teve de se inclinar para a direita, porque o traje era muito duro para ele poder se abaixar.<\/p>\n

No Campo Lunar<\/h2>\n

Efeitos extremamente complexos afetam as caracter\u00edsticas geol\u00f3gicas da Terra. A crosta, o magma, a \u00e1gua e a atmosfera interagem; as placas oce\u00e2nicas e os continentes se partem e colidem; objetos do espa\u00e7o despencam sobre ela; e a biosfera, incluindo os seres humanos, altera a paisagem.<\/p>\n

Na Lua, nos \u00faltimos 4 bilh\u00f5es de anos, os efeitos foram majoritariamente externos, basicamente impactos de cometas e de part\u00edculas energ\u00e9ticas do vento solar (ver \u201cMist\u00e9rios ainda n\u00e3o decifrados da Lua\u201d, Scientific American Brasil, janeiro de 2004 e no site da SCIAM).<\/p>\n

A aus\u00eancia de atmosfera exp\u00f5e os materiais da superf\u00edcie ao v\u00e1cuo do espa\u00e7o. Meteoros e cometas, alguns t\u00e3o pequenos quanto gr\u00e3os de areia, e viajando a dezenas de quil\u00f4metros por segundo, atingem e modificam as rochas, fragmentos de rochas, vidro e poeira.<\/p>\n

Esse processo produziu o que vemos como \u201csolo\u201d lunar: uma esp\u00e9cie de cobertura de detritos fragmentados e parcialmente v\u00edtrea, chamado regolito lunar, que recobre os derrames vulc\u00e2nicos e as forma\u00e7\u00f5es antigas, geradas por impactos, com dezenas de metros de profundidade.<\/p>\n

Portanto, a explora\u00e7\u00e3o de campo na Lua requer que os ge\u00f3logos tenham uma vis\u00e3o quase que de raios X. Para identificar as interfaces, ou contatos, entre as principais unidades de rocha tive de visualizar como a forma\u00e7\u00e3o e espalhamento gradual do regolito pelos impactos alargaram e suavizaram os contrastes originais nos minerais, cor e textura das rochas.<\/p>\n

No vale de Taurus-Littrow, por exemplo, explorei o contato entre o fluxo de basalto, de gr\u00e3os finos e escuros, e as rochas fragmentadas, de cor cinza, mais velhas, conhecidas como breccias de impacto. Quando esse contato se formou deve ter sido muito acentuado \u2013 uma jun\u00e7\u00e3o abrupta entre dois tipos de rochas.<\/p>\n

Mas 3,8 bilh\u00f5es de anos de exposi\u00e7\u00e3o ao espa\u00e7o desgastaram os contatos em algumas centenas de metros. Em outro lugar, um contato entre um dep\u00f3sito de poeira proveniente de uma avalanche e o regolito negro se espalhou apenas algumas dezenas de metros em 100 milh\u00f5es de anos, desde que a avalanche ocorreu.<\/p>\n

Ao entender os processos que modificam ativamente esses contatos pude determinar suas posi\u00e7\u00f5es originais. De modo an\u00e1logo, um ge\u00f3logo na Terra deve determinar como a eros\u00e3o terrestre dilui ou recobre os contatos entre rochas e estruturas inferiores. A identifica\u00e7\u00e3o no campo de diferentes tipos de rochas expostas sobre a superf\u00edcie lunar exige o conhecimento dos efeitos do cont\u00ednuo bombardeamento por micrometeoritos.<\/p>\n

Quando part\u00edculas com velocidades extremamente altas atingem a superf\u00edcie, criam, localmente, um plasma de alta temperatura e fundem rochas no ponto de impacto.<\/p>\n

O plasma e a rocha fundida ejetados s\u00e3o depositados nas vizinhan\u00e7as, produzindo uma p\u00e1tina fina, com uma cor castanha e apar\u00eancia v\u00edtrea, formada por micropart\u00edculas de ferro que cobre toda a rocha. Assim, como um ge\u00f3logo na Terra deve procurar por rochas expostas em um vasto deserto, nas regi\u00f5es mais secas tive de mapear e interpretar rapidamente o que estava abaixo dessa p\u00e1tina at\u00e9 poder lascar ou quebrar a rocha com um martelo.<\/p>\n

As pequenas crateras de impacto que interrompem a p\u00e1tina lunar cont\u00eam vidro de diferentes cores, refletindo a composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica local. Se a estrutura se formou em um mineral branco (como o plagiocl\u00e1sio, da fam\u00edlia do feldspato, um dos principais componentes das rochas vulc\u00e2nicas), o resultado \u00e9 um vidro de um tom cinza-claro com uma distinta mancha branca, provocada pelas rachaduras do mineral. Se um mineral rico em ferro ou magn\u00e9sio foi atingido, o resultado \u00e9 um vidro verde. O conhecimento desse processo permitiu determinar a composi\u00e7\u00e3o das rochas apenas pela observa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O Que Marte nos Reserva<\/h2>\n

Em Marte os cientistas esperam encontrar efeitos que combinam aqueles que ocorrem na Terra e na Lua, uma vez que o Planeta Vermelho tem tamanho intermedi\u00e1rio. De fato, nosso conhecimento geol\u00f3gico crescente sobre Marte j\u00e1 confirmou essa combina\u00e7\u00e3o de processos.<\/p>\n

Desde as primeiras fotografias, obtidas pelas c\u00e2maras orbitais e pelas naves Viking, sabemos que as caracter\u00edsticas geol\u00f3gicas de Marte resultam da combina\u00e7\u00e3o de efeitos internos e externos. Diferentemente da Lua, Marte tem uma fina atmosfera, com uma press\u00e3o atmosf\u00e9rica no solo de aproximadamente 1%, a press\u00e3o atmosf\u00e9rica da Terra ao n\u00edvel do mar.<\/p>\n

A exist\u00eancia dessa atmosfera muda a assinatura geol\u00f3gica que os exploradores ter\u00e3o de avaliar e observar para identificar, analisar e entender as unidades de rocha do subsolo. A atmosfera filtra pequenos meteoros e cometas \u2013 aqueles capazes de formar crateras menores de 30 metros de di\u00e2metro.<\/p>\n

Consequentemente, sua superf\u00edcie n\u00e3o \u00e9 coberta por crateras, como a da Lua. Em vez disso, o material dominante \u00e9 a poeira levada pelo vento. Essa poeira prov\u00e9m de v\u00e1rias fontes, como rochas erodidas pelo vento, desmoronamentos, impactos e rea\u00e7\u00f5es qu\u00edmicas.<\/p>\n

Ela forma suaves dunas \u2013 que os exploradores ter\u00e3o de evitar \u2013, muito parecidas com os montes de neve formados pelo vento nas plan\u00edcies e montanhas da Terra. De fato, os ve\u00edculos exploradores Spirit e Opportunity ficaram presos numa dessas forma\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Apesar do efeito de filtro da atmosfera, a geologia relacionada ao impacto ainda domina a superf\u00edcie e o tecido pr\u00f3ximo da superf\u00edcie das forma\u00e7\u00f5es marcianas mais expostas.<\/p>\n

Os primeiros ge\u00f3logos devem decifrar o material ejetado, as fraturas e as modifica\u00e7\u00f5es provocadas nas rochas por impactos. Entretanto, nem todas as rochas t\u00eam rela\u00e7\u00e3o com impactos. Em muitos vales, assim como em outras regi\u00f5es, dominam camadas de rochas que se assemelham a estratos sedimentares ou vulc\u00e2nicos. O regolito gerado por impacto n\u00e3o \u00e9 cont\u00ednuo, e muitos afloramentos de forma\u00e7\u00f5es rochosas s\u00e3o acess\u00edveis ao exame e amostragem geol\u00f3gicas normais.<\/p>\n

CORTESIA DA NASA\/JPL<\/p>\n

\"\"
\nEXPLORADORES Em Marte tamb\u00e9m sofrer\u00e3o algumas desorienta\u00e7\u00f5es visuais como os astronautas da Apollo. Esse panorama da cratera Gusev, obtido pela sonda Spirit no 147\u00ba dia de sua miss\u00e3o a Marte, mostra a luz espalhada em torno da sombra do trip\u00e9 da c\u00e2mara. Segundo os cientistas, a poeira na atmosfera marciana atenua a luz e faz com que a avalia\u00e7\u00e3o de dist\u00e2ncias seja mais f\u00e1cil que na Lua. A base das montanhas Columbia, ao fundo, est\u00e1 a cerca de 500 metros.<\/p>\n

Enquanto a Lua \u00e9 seca, \u00e1gua l\u00edquida esculpiu o solo e criou novos minerais em Marte. Exame laboratorial de amostras lunares n\u00e3o identificou nenhum mineral subproduto de \u00e1gua, mas sensores orbitais e an\u00e1lise rob\u00f3tica de minerais marcianos detectaram uma grande variedade de argila contendo \u00e1gua, assim como sais na superf\u00edcie que, provavelmente, se precipitaram da \u00e1gua.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, diferentemente da Lua, cujas rochas cont\u00eam ferro met\u00e1lico n\u00e3o oxidado, Marte tem vastos dep\u00f3sitos de ferro oxidado (hematita, Fe2O3), outro sinal de processamento por \u00e1gua l\u00edquida (ver \u201cRios e lagos no passado marciano, Scientific American Brasil, janeiro de 2007; \u201cAs muitas faces de Marte\u201d, Scientific American Brasil, agosto de 2007 e no site da SCIAM).<\/p>\n

O ge\u00f3logo marciano deve estar preparado para um espectro de minerais muito mais amplo que o que encontramos na Lua. \u00c1gua tamb\u00e9m transporta materiais, esculpe vales e alguns impactos parecem ter fundido o gelo abaixo da superf\u00edcie, gerando fluxos de lama.<\/p>\n

Resumindo, o regolito marciano, em geral, consiste em materiais ejetados por impactos e detritos de fluxos de lama ou de enchentes, interestratificados com poeira carregada pelo vento. Nas regi\u00f5es polares, ele tamb\u00e9m cont\u00e9m gelo de \u00e1gua e de di\u00f3xido de carbono, confirmado recentemente pela sonda Phoenix. O regolito lunar \u00e9 muito menos complexo.<\/p>\n

Como consequ\u00eancia dessas diferen\u00e7as em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Lua, novos desafios estar\u00e3o \u00e0 espera dos ge\u00f3logos de campo em Marte. Os exploradores ainda precisar\u00e3o de vis\u00e3o de raios X; entretanto, ela ser\u00e1 mais parecida com aquela exigida pela Terra, onde \u00e9 preciso levar em conta o efeito do vento, da gravidade ou dos materiais transportados pela \u00e1gua. Sob outros aspectos, a explora\u00e7\u00e3o pode ser mais f\u00e1cil que na Lua.<\/p>\n

Imagens de Marte mostram que, embora fina, a poeira carregada pelo vento forma sobre muitas rochas uma camada pouco espessa, que as reveste como p\u00e1tina, e o vento, frequentemente, limpa as superf\u00edcies, de modo que esse revestimento n\u00e3o ser\u00e1 um empecilho para a identifica\u00e7\u00e3o visual das rochas e minerais.<\/p>\n

Uma semelhan\u00e7a com a explora\u00e7\u00e3o lunar poder\u00e1 ser a distor\u00e7\u00e3o visual. No v\u00e1cuo ou em uma atmosfera fina, nosso c\u00e9rebro tende a subestimar dist\u00e2ncias.<\/p>\n

Essa sensa\u00e7\u00e3o pode ser experimentada no ar l\u00edmpido dos desertos e montanhas da Terra; a aus\u00eancia de objetos familiares como casas, \u00e1rvores e arbustos agrava esse efeito. Neil Armstrong foi o primeiro a notar o problema depois de pousar a Apollo 11. Eu aprendi a compensar esse efeito comparando o tamanho conhecido de minha sombra com o que ela aparentava ter, e depois aumentando proporcionalmente minhas estimativas de dist\u00e2ncia em 50%.<\/p>\n

A poeira da superf\u00edcie tamb\u00e9m engana os olhos. Na Lua, ela provoca intenso retroespalhamento da luz, quando se olha na dire\u00e7\u00e3o oposta ao Sol.<\/p>\n

Esse efeito de oposi\u00e7\u00e3o \u2013 que parece uma mancha brilhante e difusa \u2013 \u00e9 o mesmo fen\u00f4meno observado na sombra de uma pessoa na neve ou na de um avi\u00e3o que sobrevoa uma floresta densa ou uma lavoura. Os astronautas em Marte ter\u00e3o essa mesma sensa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O retroespalhamento da luz fornece alguma luz nas sombras, enquanto sombras observadas ao olhar na dire\u00e7\u00e3o do Sol s\u00e3o iluminadas somente pela pequena quantidade de luz espalhada por outros aspectos da superf\u00edcie. Tivemos de ajustar a abertura de nossas c\u00e2maras relativamente \u00e0 linha do Sol em cada fotografia que fizemos. As futuras c\u00e2maras de explora\u00e7\u00e3o e sistemas de v\u00eddeo devem ser capazes de se autoajustar para essas condi\u00e7\u00f5es de luz.<\/p>\n

A Dificuldade de Acesso
\nPessoalmente, senti-me muito \u00e0-vontade enquanto estive na Lua. Atribuo este n\u00edvel de conforto por estar altamente motivado e treinado, e por confiar plenamente na equipe de suporte na Terra. Mas a Lua estava a somente tr\u00eas dias e meio de dist\u00e2ncia.<\/p>\n

Marte, usando os foguetes qu\u00edmicos convencionais, est\u00e1 a oito ou nove meses de dist\u00e2ncia, na melhor das hip\u00f3teses. Mesmo usando propuls\u00e3o el\u00e9trica ou de fus\u00e3o, que tornam a jornada mais r\u00e1pida pela cont\u00ednua acelera\u00e7\u00e3o e desacelera\u00e7\u00e3o da nave, a viagem levar\u00e1 meses. Por causa do isolamento, a tripula\u00e7\u00e3o a Marte ter\u00e1 de ser muito mais autoconfiante que as lunares.<\/p>\n

Acredito que as consequ\u00eancias psicol\u00f3gicas numa viagem a Marte n\u00e3o ser\u00e3o um problema s\u00e9rio. A diferen\u00e7a entre, no m\u00ednimo, v\u00e1rios meses para voltar para casa e alguns dias pode afetar algumas pessoas de maneiras adversas, mas os exploradores da Terra superaram isso e desafios piores.<\/p>\n

Historicamente, aventureiros se distanciaram de suas casas durante per\u00edodos compar\u00e1veis aos das primeiras tripula\u00e7\u00f5es a Marte \u2013 e sem nenhum meio de telecomunica\u00e7\u00e3o. A motiva\u00e7\u00e3o, treinamento, confian\u00e7a na equipe e o instinto de sobreviv\u00eancia dos visitantes de Marte ser\u00e3o muito parecidos com os dos astronautas do projeto Apollo.<\/p>\n

Todos estar\u00e3o extremamente ocupados com o funcionamento e manuten\u00e7\u00e3o da nave, atividades cient\u00edficas, exerc\u00edcios f\u00edsicos, treinamento de simula\u00e7\u00e3o para tarefas futuras, atualiza\u00e7\u00e3o dos planos de explora\u00e7\u00e3o e muitos outros afazeres. De fato, se a hist\u00f3ria dos voos espaciais at\u00e9 hoje servir de alguma indica\u00e7\u00e3o, encontrar tempo para relaxar ser\u00e1 o principal desafio psicol\u00f3gico que a tripula\u00e7\u00e3o enfrentar\u00e1. Os planejadores das miss\u00f5es dever\u00e3o ter isso em mente.<\/p>\n

A primeira restri\u00e7\u00e3o quanto \u00e0 efici\u00eancia da explora\u00e7\u00e3o de Marte, como foi na Lua, ser\u00e1 o uso de um traje espacial pressurizado. O traje Apollo 7LB, utilizado durante a explora\u00e7\u00e3o do Taurus-Littrow, permitiu-nos realizar uma enorme variedade de trabalho de campo em ambiente muito hostil. O traje era pressurizado com cerca de um quarto da press\u00e3o atmosf\u00e9rica ao n\u00edvel do mar na Terra.<\/p>\n

Eu poderia correr com ele a uma velocidade de cerca de 10 km\/h, em passo regular, por v\u00e1rios quil\u00f4metros se necess\u00e1rio, mantendo um passo de marcha for\u00e7ada.<\/p>\n

Com as ferramentas que t\u00ednhamos e trabalhando em equipe pudemos colher amostras, document\u00e1-las fotograficamente e empacot\u00e1-las num tempo razo\u00e1vel. Em cerca de 18 horas de explora\u00e7\u00e3o, coletamos 112 kg de rocha e regolito. Eu teria preferido ter mobilidade nas pernas, cintura e bra\u00e7os, mas o que o A7LB permitia foi suficiente.<\/p>\n

O que praticamente n\u00e3o funcionou, ou pelo menos gerou bastante cansa\u00e7o e trauma nas m\u00e3os, foram as luvas. \u00c9 preciso melhorar a tecnologia das luvas para o retorno \u00e0 Lua e quando formos a Marte. A flexibilidade dos dedos era limitada, e meus antebra\u00e7os ficavam cansados depois de 30 minutos de trabalho.<\/p>\n

Era como ficar apertando uma bola de t\u00eanis sem parar. Depois de um per\u00edodo de oito horas de descanso, eu j\u00e1 n\u00e3o sentia dor muscular \u2013 gra\u00e7as \u00e0 circula\u00e7\u00e3o cardiovascular mais eficiente em um sexto de gravidade da Terra. Mas, depois de tr\u00eas excurs\u00f5es de oito a nove horas, n\u00e3o tenho certeza de quanto mais suportaria com as feridas nas m\u00e3os e o dano que aquelas luvas provocavam nas unhas.<\/p>\n

A tecnologia do traje especial pode evoluir de forma que a luva do traje, ou seu equivalente, se aproxime da destreza da m\u00e3o humana, e o traje em si se torne t\u00e3o flex\u00edvel quanto um traje para esqui em campo aberto. Conceitualmente, assistentes de campo rob\u00f3ticos podem ajudar no pr\u00e9 planejamento de expedi\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, baseados na experi\u00eancia dos astronautas que constroem a Esta\u00e7\u00e3o Espacial Internacional, est\u00e3o sendo aplicadas novas t\u00e9cnicas de treinamento f\u00edsico que garantem um maior condicionamento dos m\u00fasculos do bra\u00e7o para utiliza\u00e7\u00e3o cont\u00ednua das m\u00e3os. Outros procedimentos e equipamentos poderiam melhorar ainda mais a efici\u00eancia das explora\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Formando uma Tripula\u00e7\u00e3o<\/h2>\n

A urg\u00eancia pol\u00edtica e a natureza dos voos de teste no in\u00edcio do planejamento e do desenvolvimento do projeto Apollo deixaram poucas op\u00e7\u00f5es para a sele\u00e7\u00e3o de ge\u00f3logos de campo experientes como membros regulares das tripula\u00e7\u00f5es das miss\u00f5es lunares.<\/p>\n

A Nasa escolheu, prioritariamente, entre pilotos de teste profissionais e militares treinados, o \u00fanico ge\u00f3logo de campo, eu mesmo. Todos os membros da tripula\u00e7\u00e3o precisavam ter experi\u00eancia e confian\u00e7a no uso das m\u00e1quinas e m\u00e9todos necess\u00e1rios para voar. N\u00e3o havia espa\u00e7o para ge\u00f3logos de campo como \u201cpassageiros\u201d.<\/p>\n

Isso dever\u00e1 mudar a partir do programa Constellation, de volta \u00e0 Lua, daqui a uma d\u00e9cada. Exploradores de campo profissionais dever\u00e3o integrar as tripula\u00e7\u00f5es que forem \u00e0 Lua, antecipando- se \u00e0 explora\u00e7\u00e3o de Marte. Da mesma forma que nas \u00faltimas miss\u00f5es Apollo, todos os tripulantes e equipes de suporte operacional receber\u00e3o treinamento de campo terrestre em problemas geol\u00f3gicos, o mais real poss\u00edvel.<\/p>\n

O tamanho \u00f3timo de tripula\u00e7\u00e3o para a primeira explora\u00e7\u00e3o parece ser de quatro: dois pilotos profissionais treinados como exploradores de campo e engenheiros de sistemas, como foi feito com as tripula\u00e7\u00f5es do projeto Apollo; um ge\u00f3logo de campo profissional treinado como piloto, engenheiro de sistemas e bi\u00f3logo de campo; e um bi\u00f3logo de campo profissional com treinamento como m\u00e9dico e ge\u00f3logo de campo.<\/p>\n

Com esse treinamento cruzado, o sucesso da miss\u00e3o n\u00e3o depende de uma \u00fanica pessoa, mas de um trabalho de equipe. Al\u00e9m de estar totalmente preparado para contribuir com sua especialidade para um time integrado, cada membro da tripula\u00e7\u00e3o a Marte deve se sentir, completamente e sem hesita\u00e7\u00e3o, compat\u00edvel com a estrutura hier\u00e1rquica de comando.<\/p>\n

Historicamente, grupos pequenos e isolados de exploradores conseguiram seu melhor desempenho quando trabalharam sob o comando de um l\u00edder objetivo e experiente.<\/p>\n

As explora\u00e7\u00f5es marcianas ser\u00e3o diferentes das lunares sob v\u00e1rios aspectos. Primeiro, porque em virtude de a viagem ser medida em meses em lugar de dias, a tripula\u00e7\u00e3o dever\u00e1 continuar a praticar pouso e outros procedimentos de voo durante a viagem.<\/p>\n

Para as miss\u00f5es Apollo, ensaiamos pouso em um simulador no solo, e nosso \u00faltimo voo de prova foi pouco antes do lan\u00e7amento, menos de uma semana antes de iniciarmos nossa descida na Lua. O intervalo entre o lan\u00e7amento e o pouso para as viagens a Marte seria da ordem de nove meses \u2013 evidentemente muito longo sem uma atividade regular de treinamento a bordo.<\/p>\n

Segundo, o controle de solo na Terra n\u00e3o ser\u00e1 capaz de executar as fun\u00e7\u00f5es tradicionais de controle da miss\u00e3o em virtude da demora nas comunica\u00e7\u00f5es (22 minutos num sentido).<\/p>\n

Da Terra, no entanto, ser\u00e3o realizadas atividades que n\u00e3o requerem intera\u00e7\u00e3o ao vivo com a tripula\u00e7\u00e3o, como an\u00e1lise e s\u00edntese de dados, planejamento semanal, monitoramento e an\u00e1lise de sistemas e de consum\u00edveis, planejamento de manuten\u00e7\u00e3o e desenvolvimento de cen\u00e1rio.<\/p>\n

As reais fun\u00e7\u00f5es de controle da miss\u00e3o ao vivo precisar\u00e3o ser executadas pelos pr\u00f3prios astronautas. Por exemplo, a miss\u00e3o pode consistir em duas tripula\u00e7\u00f5es, uma das quais desce ao solo enquanto a outra permanece em \u00f3rbita para atuar como um centro de controle da miss\u00e3o orbital. Quando a primeira retornar \u00e0 \u00f3rbita, a segunda desce e explora um local diferente.<\/p>\n

Esse grau de autonomia n\u00e3o \u00e9 in\u00e9dito. Mesmo durante o projeto Apollo, embora tiv\u00e9ssemos planejado atividades de explora\u00e7\u00e3o lunar antes do lan\u00e7amento, usando fotografias, a Nasa deixou uma margem significativa de a\u00e7\u00f5es que as tripula\u00e7\u00f5es poderiam executar em caso de oportunidade.<\/p>\n

No final do segundo per\u00edodo de explora\u00e7\u00e3o da Apollo 17, por exemplo, descobri vidro vulc\u00e2nico alaranjado na borda da cratera Short, apenas 30 minutos antes do t\u00e9rmino do trabalho naquele local. Sem esperar por sugest\u00f5es do controle da miss\u00e3o, Gene e eu come\u00e7amos a descrever, fotografar e colher amostras do dep\u00f3sito.<\/p>\n

N\u00e3o t\u00ednhamos tempo para discutir o plano com os controladores, mas sab\u00edamos de imediato o que deveria ser feito. Atitudes como essa ser\u00e3o esperadas, o tempo todo, das tripula\u00e7\u00f5es a Marte, e o controle da miss\u00e3o, na Terra, s\u00f3 vir\u00e1 a saber dezenas de minutos depois.<\/p>\n

Uma terceira diferen\u00e7a com rela\u00e7\u00e3o ao projeto Apollo \u00e9 que, dependendo do custo e da import\u00e2ncia hist\u00f3rica de cada miss\u00e3o de explora\u00e7\u00e3o a Marte, a filosofia deve ser totalmente voltada ao sucesso. Caso algo d\u00ea errado, os astronautas dever\u00e3o ser capazes de continuar sua miss\u00e3o e cumprir, com \u00eaxito, seus maiores objetivos.<\/p>\n

Teoricamente, a nave dever\u00e1 levar dois m\u00f3dulos de descida para o caso de um falhar. Tamb\u00e9m, se ocorrerem anomalias dos sistemas ou dos softwares durante a entrada, a descida ou no procedimento de pouso, os astronautas dever\u00e3o ser capazes de abortar para pouso em vez de abortar para orbitar, como acontecia nos planos do projeto Apollo. Os problemas poder\u00e3o ser resolvidos posteriormente, em consulta com a Terra, desde que a tripula\u00e7\u00e3o pouse em Marte em seguran\u00e7a.<\/p>\n

Os jovens ter\u00e3o o privil\u00e9gio e a aventura de explorar Marte, caso seus pais e av\u00f3s lhes deem a oportunidade. N\u00e3o ser\u00e1 f\u00e1cil. O risco \u00e9 inerente a qualquer iniciativa que valha a pena. A recompensa por obter novos conhecimentos \u00e9 inestim\u00e1vel, mas os preju\u00edzos por interromper a explora\u00e7\u00e3o seriam desastrosos.<\/p>\n

Um adiamento maior da explora\u00e7\u00e3o de Marte levaria os americanos a seguir as pegadas de outros exploradores e pa\u00edses. Al\u00e9m disso, sem um esfor\u00e7o gradual em aprender como explorar e eventualmente se fixar em outros mundos, a pr\u00f3pria exist\u00eancia humana permanecer\u00e1 vulner\u00e1vel ao impacto de asteroides e cometas. Curiosidade, li\u00e7\u00f5es hist\u00f3ricas e nosso instinto de autopreserva\u00e7\u00e3o, tudo nos inspira a continuar buscando novos horizontes al\u00e9m da Terra.<\/p>\n

D\u00c9CADAS PERDIDAS<\/h2>\n

H\u00e1 muito tempo Harrison Schmitt argumenta que o cancelamento do programa Apollo, em 1972, foi um grande e caro erro, e o administrador da Nasa, Michael Griffin, compartilhou dessa opini\u00e3o em um artigo de 2007.<\/p>\n

Se a Nasa tivesse mantido a tecnologia Apollo, em vez de desenvolver um sistema inteiramente novo \u2013 o \u00f4nibus espacial \u2013 os escassos fundos da \u00e9poca teriam sido suficientes para voar quatro vezes por ano para orbitar a Terra, expandir a esta\u00e7\u00e3o espacial Skylab e ir \u00e0 Lua duas vezes por ano. Com algum avan\u00e7o tecnol\u00f3gico, o sistema poderia ter chegado a Marte. \u201cSe tiv\u00e9ssemos feito tudo isso\u201d, escreveu Griffin, \u201choje estar\u00edamos em Marte, e n\u00e3o escrevendo sobre isso como um t\u00f3pico para os pr\u00f3ximos 50 anos.\u201d<\/p>\n

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Refer\u00eancias<\/h2>\n

Exploring Taurus-Littrow (What is it like to walk on another world?). Harrison H. Schmitt, National Geographic, vol. 144, n\u00ba 3, p\u00e1gs. 290-307, setembro de 1973.<\/p>\n

A trip to the moon. Harrison H. Schmitt, em Where next, Columbus?: The future of space exploration. Organizado por Valerie Neal. Oxford University Press, 1994.<\/p>\n

Apollo 17 and the Moon. Harrison H. Schmitt, Encyclopedia of Space Science and Technology. Organizado por Hans Mark. Wiley, 2003.<\/p>\n

Return to the Moon. Harrison H. Schmitt. Springer-Praxis, 2006.<\/p>\n

Decoding the mineral history of Mars. Vivien Gornitz. Mineral News, vol. 24, n\u00ba 2, p\u00e1gs. 12-13; fevereiro de 2008.<\/p>\n

Paper astronaut: The paper spacecraft mission manual. Juliette Cezzar. Introdu\u00e7\u00e3o por Buzz Aldrin. Universe, 2009.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em julho de 1969, a superf\u00edcie lunar ecoou com a vida pela primeira vez. Em uns 40 anos, Marte tamb\u00e9m produzir\u00e1 o mesmo eco? O presidente americano Barack Obama reafirmou as grandes metas para v\u00f4os espaciais tripulados anunciadas por seu antecessor em 2004: aposentar o \u00f4nibus espacial em 2010, desenvolver uma nova linha de foguetes …<\/p>\n","protected":false},"author":8,"featured_media":13123,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[18],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13116"}],"collection":[{"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/8"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=13116"}],"version-history":[{"count":4,"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13116\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":15294,"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13116\/revisions\/15294"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/13123"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=13116"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=13116"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/planetabiologia.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=13116"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}