{"id":13749,"date":"2020-07-07T08:00:14","date_gmt":"2020-07-07T08:00:14","guid":{"rendered":"https:\/\/planetabiologia.com\/?p=13749"},"modified":"2022-12-11T20:31:12","modified_gmt":"2022-12-11T20:31:12","slug":"formacao-dos-orgaos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/planetabiologia.com\/formacao-dos-orgaos\/","title":{"rendered":"A forma\u00e7\u00e3o dos \u00f3rg\u00e3os"},"content":{"rendered":"

A forma\u00e7\u00e3o dos \u00f3rg\u00e3os come\u00e7a com a separa\u00e7\u00e3o de um grupo de c\u00e9lulas dos demais e a consequente forma\u00e7\u00e3o de um primeiro tecido que est\u00e1 destinado a crescer com o tempo e aumentar significativamente de volume.<\/strong><\/p>\n

A forma do \u00f3rg\u00e3o depende de v\u00e1rios processos que envolvem a ativa\u00e7\u00e3o de genes espec\u00edficos, varia\u00e7\u00f5es na taxa de divis\u00e3o celular<\/strong><\/a>, morfologia e ades\u00e3o celular, incluindo tamb\u00e9m a morte programada de alguns deles (apoptose<\/strong><\/a>).<\/p>\n

Durante a organog\u00eanese<\/strong><\/a>, as c\u00e9lulas recebem pistas qu\u00edmicas e f\u00edsicas do ambiente que as informam sobre sua posi\u00e7\u00e3o relativa no embri\u00e3o e alteram sua arquitetura interna, permitindo que se diferenciem e se especializem.<\/p>\n

O desenvolvimento das estruturas e \u00f3rg\u00e3os n\u00e3o ocorre de forma ca\u00f3tica, mas com uma l\u00f3gica estrita, de modo que cada fol\u00edolo embrion\u00e1rio forme \u00f3rg\u00e3os bem espec\u00edficos em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 posi\u00e7\u00e3o que ocupar\u00e1 ao final da gastrula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

No in\u00edcio da investiga\u00e7\u00e3o dos embri\u00f5es<\/strong>, ainda no s\u00e9culo XVII, quando foram utilizados os primeiros microsc\u00f3pios, pensava-se que o desenvolvimento do embri\u00e3o consistia no crescimento de um organismo j\u00e1 formado. Rapidamente ficou claro que este n\u00e3o \u00e9 absolutamente o caso.<\/p>\n

Os \u00f3rg\u00e3os do corpo se desenvolvem a partir dos tecidos do embri\u00e3o (organog\u00eanese<\/strong>). Na tabela abaixo voc\u00ea encontra a origem embriol\u00f3gica de algumas partes do corpo humano.<\/p>\n

\"Origem
Origem embriol\u00f3gica de algumas partes do corpo humano<\/figcaption><\/figure>\n

Na verdade, a origem embriol\u00f3gica de muitos \u00f3rg\u00e3os remonta a um folheto germinativo espec\u00edfico. Por exemplo, os tecidos que formam os rins s\u00e3o origin\u00e1rios da mesoderme.<\/strong><\/p>\n

\"\"
Origem dos \u00f3rg\u00e3os em um embri\u00e3o humano. Observe as fendas na faringe, que logo regridem e se fecham.<\/figcaption><\/figure>\n

As estruturas do corpo tamb\u00e9m podem ser formadas pela intera\u00e7\u00e3o dos cotil\u00e9dones. Os dentes, por exemplo, s\u00e3o formados pela intera\u00e7\u00e3o de duas camadas germinativas: a parte mais externa, o esmalte do dente, \u00e9 formada a partir do ectoderma, e a parte interna, a polpa, \u00e9 formada a partir do mesoderma.<\/p>\n

\"ectoderme
A intera\u00e7\u00e3o entre folhetos germinativos d\u00e1 origem a estruturas diferentes, como pelos, penas, mamas e dentes. Eles s\u00e3o formados a partir da ectoderme e da mesoderme em diferentes animais.<\/figcaption><\/figure>\n

\u00c9 interessante que diversas gl\u00e2ndulas e anexos d\u00e9rmicos, como os pelos nos mam\u00edferos e as penas nas aves, resultam dessa intera\u00e7\u00e3o pouco comum, que leva dois tecidos embrion\u00e1rios a produzir partes do corpo (como dentes, mamas, penas e pelos.<\/p>\n

Semelhan\u00e7as entre embri\u00f5es Animais diferentes podem apresentar embri\u00f5es bastante semelhantes nos est\u00e1gios iniciais de desenvolvimento, apesar de os indiv\u00edduos adultos n\u00e3o serem nada parecidos.<\/p>\n

\u00c9 dif\u00edcil reconhecer formas f\u00edsicas humanas nesse pequeno embri\u00e3o, mas ele j\u00e1 possui uma regi\u00e3o anterior (cabe\u00e7a, seta 1) distinta da regi\u00e3o posterior (seta 2). Observe as dobras na regi\u00e3o do pesco\u00e7o e como uma delas parece bordar a boca (seta 3). Nos peixes, essas estruturas d\u00e3o origem a estruturas que sustentam as br\u00e2nquias dos adultos, chamadas de arcos branquiais.<\/p>\n

\"Peixe
Peixe amaz\u00f4nico (tucunar\u00e9) com as br\u00e2nquias expostas. As br\u00e2nquias de um peixe adulto s\u00e3o sustentadas pelos arcos branquiais, que se desenvolvem da regi\u00e3o branquial do embri\u00e3o.<\/figcaption><\/figure>\n

Observe na figura abaixo como os arcos branquiais, que est\u00e3o presentes no embri\u00e3o do tubar\u00e3o, t\u00eam uma correspond\u00eancia com as regi\u00f5es do embri\u00e3o humano nas primeiras semanas de vida intrauterina. No tubar\u00e3o, o primeiro arco branquial do embri\u00e3o vai formar a mand\u00edbula do adulto \u2013 e o mesmo ocorre no embri\u00e3o humano.<\/p>\n

\"arcos
Desenho da regi\u00e3o branquial de um embri\u00e3o de tubar\u00e3o e de seus arcos branquiais, mostrando as semelhan\u00e7as com o embri\u00e3o humano. V\u00e1rias estruturas da cabe\u00e7a, como a mand\u00edbula (osso maxilar), t\u00eam origem no primeiro arco branquial.<\/figcaption><\/figure>\n

A grande diferen\u00e7a entre os dois \u00e9 que, nos seres humanos, al\u00e9m de formar as mand\u00edbulas inferior e superior, as c\u00e9lulas que constituem o primeiro arco branquial d\u00e3o origem tamb\u00e9m a dois pequenos ossos cruciais para a audi\u00e7\u00e3o e aos vasos sangu\u00edneos que os envolvem.<\/p>\n

\"embri\u00e3o
Diversas estruturas do ser humano, como ossos, cartilagens e vasos sangu\u00edneos, podem ser rastreadas desde o embri\u00e3o e t\u00eam origem nos arcos branquiais.<\/figcaption><\/figure>\n

A grande semelhan\u00e7a no desenvolvimento dos embri\u00f5es \u00e9 reflexo de semelhan\u00e7as no material gen\u00e9tico das esp\u00e9cies. H\u00e1 regi\u00f5es do DNA extremamente semelhantes em todos os organismos que n\u00e3o s\u00e3o unicelulares.<\/p>\n

Se voc\u00ea considerar a origem das diversas formas de vida na Terra, perceber\u00e1 que foi muito grande o tempo decorrido entre o surgimento de seres vivos que se resumiam a c\u00e9lulas individuais (unicelulares) e o aparecimento de animais capazes de formar um corpo (pluricelulares), e que a apari\u00e7\u00e3o destes \u00e9 relativamente recente no planeta.<\/p>\n

Esses dados levam a crer que durante quase tr\u00eas bilh\u00f5es de anos n\u00e3o havia meios de promover a associa\u00e7\u00e3o cooperativa de c\u00e9lulas para formar um corpo. No entanto, quando isso se tornou poss\u00edvel, esses novos seres passaram a se diversificar incrivelmente.<\/p>\n

Os primeiros animais com corpo surgiram nos mares h\u00e1 pouco mais de 500 milh\u00f5es de anos. H\u00e1 pouco menos de 400 milh\u00f5es de anos apareceram os primeiros vertebrados capazes de sair da \u00e1gua e explorar o meio terrestre.<\/p>\n

Genes controladores de embri\u00f5es<\/h2>\n

Estudos realizados na d\u00e9cada de 1990 e 2000 demonstram que as c\u00e9lulas da regi\u00e3o organizadora do embri\u00e3o (veja a se\u00e7\u00e3o \u201cConectando outras \u00e1reas\u201d, na p\u00e1gina 234) t\u00eam certos segmentos de DNA<\/strong><\/a> muito ativos, que funcionam como genes organizadores.<\/p>\n

A constru\u00e7\u00e3o do corpo de um indiv\u00edduo est\u00e1 intimamente ligada \u00e0 organiza\u00e7\u00e3o do DNA nos cromossomos. O desenvolvimento embrion\u00e1rio das regi\u00f5es anterior e posterior do corpo guarda rela\u00e7\u00e3o com a posi\u00e7\u00e3o relativa de trechos de DNA.<\/p>\n

Assim, os genes ligados \u00e0 forma\u00e7\u00e3o das estruturas da cabe\u00e7a ficam ao lado dos genes ligados \u00e0 forma\u00e7\u00e3o das estruturas do meio do corpo, e estes, por sua vez, ficam ao lado dos genes ligados \u00e0 forma\u00e7\u00e3o das estruturas da parte posterior do corpo.<\/p>\n

O desenvolvimento do embri\u00e3o \u00e9 controlado por um grupo de genes que est\u00e1 presente em diversos organismos, denominado grupo de genes Homeobox. Eles ativam outros genes e, assim, promovem o desenvolvimento de certas partes no embri\u00e3o.<\/p>\n

Os genes Hox<\/strong>, um subgrupo dos genes Homeobox<\/strong>, s\u00e3o respons\u00e1veis pela determina\u00e7\u00e3o do padr\u00e3o do eixo corporal. A posi\u00e7\u00e3o desses genes na mol\u00e9cula de DNA das c\u00e9lulas determina onde se desenvolver\u00e3o as pernas ou os olhos, por exemplo.<\/p>\n

O mais incr\u00edvel \u00e9 que os genes Hox s\u00e3o extremamente similares em todos os animais. Em larvas de mosca-das-frutas, por exemplo, eles ativam os milhares de genes envolvidos na forma\u00e7\u00e3o de pernas e olhos dos insetos adultos.<\/p>\n

Quando esses mesmos genes se expressam em um embri\u00e3o humano, ativam genes completamente diferentes, envolvidos na produ\u00e7\u00e3o de pernas e olhos humanos, cujas estruturas s\u00e3o muito diferentes das pernas e dos olhos de insetos.<\/p>\n

Observe na figura a seguir o olho composto de um inseto, formado por um grande n\u00famero de unidades denominadas omat\u00eddeos<\/strong><\/a>, bem diferente do olho humano. No entanto, os genes envolvidos na forma\u00e7\u00e3o das estruturas de omat\u00eddeos e na de olhos de outros animais, inclusive do ser humano, s\u00e3o ativados pelo mesmo conjunto de genes.<\/p>\n

\"estrutura
Olho composto de um inseto, estrutura com a mesma fun\u00e7\u00e3o de um olho humano, cujo desenvolvimento no embri\u00e3o \u00e9 ativado pelo mesmo conjunto de genes, nos dois organismos.<\/figcaption><\/figure>\n

A mosca-das-frutas tem oito genes Hox em apenas um conjunto linear, situados sequencialmente. Os invertebrados tipicamente t\u00eam entre um gene Hox (em por\u00edferos) e treze genes Hox em um \u00fanico conjunto linear.<\/p>\n

O ser humano e outros mam\u00edferos t\u00eam quatro conjuntos lineares desses genes, com um total de 38 genes Hox. Qualquer altera\u00e7\u00e3o nos genes Hox resulta em problemas graves de malforma\u00e7\u00e3o do embri\u00e3o.<\/p>\n

\"conjuntos
Nas diferentes c\u00e9lulas do embri\u00e3o, diferentes genes se manifestam nas etapas iniciais do desenvolvimento. Os genes que se manifestam nas c\u00e9lulas da parte anterior do embri\u00e3o de mosca-das-frutas s\u00e3o os mesmos que se manifestam nas c\u00e9lulas da parte anterior do embri\u00e3o dos seres humanos. Os humanos t\u00eam quatro conjuntos lineares de genes Hox (a, b, c, d). Na parte de baixo, a representa\u00e7\u00e3o das regi\u00f5es correspondentes dos adultos.<\/figcaption><\/figure>\n

Em mam\u00edferos, esse tipo de situa\u00e7\u00e3o geralmente provoca abortos espont\u00e2neos no in\u00edcio da gravidez. Acredita-se que as diferentes organiza\u00e7\u00f5es de conjuntos de genes Hox surgiram h\u00e1 cerca de 500 milh\u00f5es de anos, em um per\u00edodo em que os ancestrais dos grupos de animais atuais, como artr\u00f3podes, moluscos, equinodermos, vertebrados, etc., j\u00e1 existiam.<\/p>\n

Anexos embrion\u00e1rios<\/h2>\n

O registro f\u00f3ssil mais antigo de animais formados por muitas c\u00e9lulas revela que eram animais aqu\u00e1ticos. veja aqui no site uma aula sobre anexos embrion\u00e1rios<\/strong><\/a>.<\/p>\n

O ovo aqu\u00e1tico<\/h2>\n

Durante os primeiros 100 milh\u00f5es de anos de exist\u00eancia, os animais, ou seja, os seres vivos heter\u00f3trofos com muitas c\u00e9lulas, limitaram-se a viver em ambientes aqu\u00e1ticos. Isso significa que seus ovos n\u00e3o enfrentavam o problema da falta de \u00e1gua.<\/p>\n

Um grupo de c\u00e9lulas envolvido por uma pequena pel\u00edcula gelatinosa \u00e9 um ovo aqu\u00e1tico perfeito. Ovos de moluscos, de muitos peixes e de anf\u00edbios s\u00e3o exatamente assim.<\/p>\n

Quando eclodem, os pequenos peixes das esp\u00e9cies ov\u00edparas ainda est\u00e3o envoltos em uma ves\u00edcula vitel\u00ednica (ou saco vitel\u00ednico; veremos mais detalhes do ovo aqu\u00e1tico na atualidade adiante, neste item).<\/p>\n

No entanto, h\u00e1 cerca de 375 milh\u00f5es de anos come\u00e7aram a surgir seres com caracter\u00edsticas intermedi\u00e1rias entre os peixes atuais e os animais com quatro pernas. Ainda eram peixes, mas j\u00e1 tinham nadadeiras lobadas, nadadeiras especiais capazes de sustentar o corpo e deslocar-se fora da \u00e1gua.<\/p>\n

Esses peixes de nadadeiras lobadas viviam em grandes rios, cheios de predadores vorazes, peixes de at\u00e9 cinco metros de comprimento e com dentes do tamanho de um l\u00e1pis.<\/p>\n

\"Dunkleosteus
Reconstru\u00e7\u00e3o de mar do Devoniano, h\u00e1 cerca de 375 milh\u00f5es de anos. Um peixe com uma grossa carapa\u00e7a e uma mand\u00edbula fort\u00edssima, chamado Dunkleosteus terrelli, que podia alcan\u00e7ar talvez 9 metros de comprimento. Aparecem diversos anf\u00edbios e um tubar\u00e3o (Tristychius sp.) parecidos com os atuais.<\/figcaption><\/figure>\n

A possibilidade de passar algum tempo fora da \u00e1gua constitu\u00eda uma vantagem, pois se manteriam fora do alcance dos predadores. No entanto, a reprodu\u00e7\u00e3o dependia da \u00e1gua e eles tinham de retornar ao ambiente hostil, sujeitando-se novamente aos perigos da preda\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Os embri\u00f5es dos anf\u00edbios desenvolvem- -se em ovos recobertos por uma gelatina, que se desseca com facilidade. Por essa raz\u00e3o, os ovos dos anf\u00edbios dependem da presen\u00e7a de \u00e1gua no ambiente, e seu revestimento constitui-se de uma massa gelatinosa perme\u00e1vel ao g\u00e1s carb\u00f4nico e ao oxig\u00eanio (bem como \u00e0s subst\u00e2ncias t\u00f3xicas que o embri\u00e3o produz).<\/p>\n

O ovo terrestre e o \u00e2mnio<\/h2>\n

No ambiente terrestre, os desafios para um embri\u00e3o que se desenvolve dentro de um ovo consistem em: conter a perda de \u00e1gua, garantir o acesso ao g\u00e1s oxig\u00eanio, conseguir estocar alimento e armazenar as subst\u00e2ncias t\u00f3xicas produzidas em um reservat\u00f3rio separado.<\/p>\n

Os r\u00e9pteis<\/strong> <\/a>e as aves atuais se reproduzem com ovos radicalmente diferentes dos ovos dos anf\u00edbios. Em comum, ambos possuem muito alimento, o vitelo. No entanto, contrariamente aos ovos dos anf\u00edbios, os ovos de r\u00e9pteis e os de aves desenvolvem-se longe da \u00e1gua, em ambiente terrestre e seco.<\/p>\n

R\u00e9pteis e aves t\u00eam ovos com grande reserva de vitelo na ves\u00edcula vitel\u00ednica, que \u00e9 bem irrigada por vasos sangu\u00edneos. Esses dois grupos de animais possuem membranas extraembrion\u00e1rias especiais. Uma dessas membranas constitui uma bolsa que armazena res\u00edduos, denominada alantoide.<\/p>\n

Como o alantoide \u00e9 irrigado por vasos sangu\u00edneos, contribui tamb\u00e9m com as trocas de gases e retira massa da casca. Nas aves<\/strong><\/a>, \u00e0 medida que o alantoide<\/strong> acumula res\u00edduos e ganha tamanho, ele aumenta o contato com a casca e dela retira c\u00e1lcio.<\/p>\n

Cerca de 80% do c\u00e1lcio presente no corpo das aves ao nascer prov\u00e9m da casca do ovo. Ao prover o embri\u00e3o com c\u00e1lcio, a casca perde rigidez e seu enfraquecimento facilita a sa\u00edda do filhote quando estiver pronto. A casca do ovo \u00e9 r\u00edgida o bastante para resistir a choques mec\u00e2nicos, mas \u00e9 porosa, garantindo-se, assim, o tr\u00e2nsito de gases.<\/p>\n

Outra membrana extraembrion\u00e1ria, o \u00e2mnio, constitui-se de um fluido aquoso ao redor do embri\u00e3o, que o protege de choques mec\u00e2nicos, hidrata e mant\u00e9m seu ambiente quimicamente est\u00e1vel. Essa estrutura tem import\u00e2ncia crucial para o desenvolvimento dos embri\u00f5es em ambiente terrestre.<\/p>\n

O \u00e2mnio<\/strong> \u00e9 t\u00e3o importante que certos zo\u00f3logos chamam os animais que possuem \u00e2mnio de \u201camniotas<\/strong>\u201d, incluindo nesse grupo os animais que denominamos r\u00e9pteis, aves e mam\u00edferos. Envolvendo os anexos embrion\u00e1rios vistos at\u00e9 aqui, h\u00e1 uma membrana chamada c\u00f3rio<\/strong>, que realiza as trocas gasosas com o meio.<\/p>\n

\"O
O \u00e2mnio e demais anexos embrion\u00e1rios.<\/figcaption><\/figure>\n

Embora os ovos de r\u00e9pteis e os de aves sejam muito parecidos em termos da quantidade de vitelo que cont\u00eam e da presen\u00e7a de membranas extraembrion\u00e1rias, apresentam diferen\u00e7as, por exemplo, em rela\u00e7\u00e3o aos cuidados necess\u00e1rios ao seu desenvolvimento. As aves s\u00e3o animais endot\u00e9rmicos e a temperatura requerida para o crescimento de seu embri\u00e3o \u00e9 superior \u00e0 temperatura ambiente.<\/p>\n

Tamb\u00e9m podem ser observadas diferen\u00e7as no cuidado parental. As aves, de maneira geral, apresentam este comportamento: seus ovos s\u00e3o intensamente cuidados, sendo guardados e aquecidos pelos pais at\u00e9 o momento da eclos\u00e3o.<\/p>\n

Ap\u00f3s o nascimento, os filhotes ainda s\u00e3o alimentados ativamente pelos pais nas primeiras semanas de vida. Quanto aos r\u00e9pteis, embora algumas esp\u00e9cies mostrem algum tipo de cuidado com os ovos e a prole, a regra geral \u00e9 deixar os ovos \u00e0 pr\u00f3pria sorte no ambiente e n\u00e3o cuidar da prole. Os r\u00e9pteis s\u00e3o animais ectot\u00e9rmicos<\/strong>.<\/p>\n

O \u00e2mnio e o ovo dos mam\u00edferos<\/h2>\n

O desenvolvimento intrauterino dos mam\u00edferos<\/strong><\/a> representa, em termos evolutivos, uma condi\u00e7\u00e3o posterior ao desenvolvimento embrion\u00e1rio externo. Essa nova condi\u00e7\u00e3o transformou os desafios que eram enfrentados pelo embri\u00e3o em desenvolvimento fora do corpo da m\u00e3e.<\/p>\n

Em primeiro lugar, a reprodu\u00e7\u00e3o deixou de ser dependente da disponibilidade imediata de alimento do ambiente. De certa forma, vertebrados como anf\u00edbios, r\u00e9pteis e aves precisam ingerir alimentos continuamente para produzir ovos com estoque nutritivo capaz de suprir todas as necessidades do embri\u00e3o.<\/p>\n

No caso dos mam\u00edferos, o estoque de gordura da m\u00e3e permite manter o desenvolvimento do feto mesmo enfrentando condi\u00e7\u00f5es ambientais adversas. A placenta \u00e9 uma estrutura que n\u00e3o pode ser encontrada em outros amniotas, mas est\u00e1 presente na maioria dos mam\u00edferos.<\/p>\n

Ela se forma de tecidos da m\u00e3e e do embri\u00e3o, inclusive do c\u00f3rio, que forma as vilosidades cori\u00f4nicas. A placenta se desenvolve no \u00fatero e desempenha diversas fun\u00e7\u00f5es, entre elas a de fornecer alimento ao embri\u00e3o continuamente, j\u00e1 que o \u00f3vulo dos mam\u00edferos tipicamente tem pouca quantidade de vitelo. Al\u00e9m disso, as trocas gasosas e de subst\u00e2ncias nitrogenadas tamb\u00e9m ocorrem atrav\u00e9s da placenta.<\/p>\n

\"constituindo
Representa\u00e7\u00e3o de placenta humana cerca de duas semanas ap\u00f3s a fecunda\u00e7\u00e3o<\/a>. O alantoide e o saco vitel\u00ednico perdem as fun\u00e7\u00f5es que desempenham no ovo das aves e r\u00e9pteis, dado que o c\u00f3rio passa a realizar as fun\u00e7\u00f5es de nutri\u00e7\u00e3o e trocas gasosas, constituindo as vilosidades cori\u00f4nicas.<\/figcaption><\/figure>\n

A placenta recebe os vasos sangu\u00edneos do embri\u00e3o e estes chegam muito perto do sangue da m\u00e3e, mas n\u00e3o h\u00e1 mistura de sangue. As subst\u00e2ncias nutritivas e o g\u00e1s oxig\u00eanio se difundem pelos l\u00edquidos que banham as c\u00e9lulas e passam do corpo da m\u00e3e para o embri\u00e3o.<\/p>\n

Da mesma forma, o g\u00e1s carb\u00f4nico e certos res\u00edduos nitrogenados, como a ureia, se difundem no sentido inverso, passando do sangue do embri\u00e3o para o sangue da m\u00e3e. A placenta forma uma barreira que permite certas trocas entre embri\u00e3o e m\u00e3e, conforme mostra a tabela.<\/p>\n

\"Fluxo
Fluxo de subst\u00e2ncias trocadas entre o feto e a m\u00e3e atrav\u00e9s da placenta.<\/figcaption><\/figure>\n

\u00c9 importante compreender que a placenta constitui uma barreira entre o corpo da m\u00e3e e do embri\u00e3o, mas n\u00e3o impede que subst\u00e2ncias como drogas, \u00e1lcool, medicamentos e v\u00edrus passem do corpo da m\u00e3e para o feto.<\/p>\n

C\u00e9lulas-tronco embrion\u00e1rias e novas terapias<\/h2>\n

As c\u00e9lulas do embri\u00e3o humano, em seus dias iniciais, se diferenciam gradualmente, formando os folhetos germinativos, que, em \u00faltima inst\u00e2ncia, v\u00e3o gerar todos os tecidos e \u00f3rg\u00e3os do corpo. As c\u00e9lulas embrion\u00e1rias capazes de gerar diferentes \u00f3rg\u00e3os s\u00e3o chamadas c\u00e9lulas-tronco (ou c\u00e9lulas TE).<\/p>\n

As c\u00e9lulas-tronco<\/strong><\/a> embrion\u00e1rias foram isoladas pela primeira vez em camundongos, na d\u00e9cada de 1980. As c\u00e9lulas TE s\u00e3o obtidas de embri\u00f5es nos est\u00e1gios iniciais de desenvolvimento, com poucas c\u00e9lulas. Elas ret\u00eam o potencial para produzir qualquer tipo de c\u00e9lula no organismo, o que as torna pluripotentes (ou totipotentes).<\/p>\n

Na aula aqui no site sobre tecido sangu\u00edneo<\/strong><\/a>, vimos como as c\u00e9lulas do sangue s\u00e3o continuamente geradas por c\u00e9lulas-tronco hematopoi\u00e9ticas na medula \u00f3ssea vermelha de alguns ossos. Quando ocorrem disfun\u00e7\u00f5es dessas c\u00e9lulas, adv\u00eam problemas s\u00e9rios no sangue ou na imunidade do indiv\u00edduo, como falta de gl\u00f3bulos brancos ou de plaquetas.<\/p>\n

Nesses casos \u00e9 necess\u00e1rio repor as c\u00e9lulas-tronco hematopoi\u00e9ticas em um procedimento m\u00e9dico. A primeira aplica\u00e7\u00e3o m\u00e9dica das c\u00e9lulas-tronco foi no tratamento de doen\u00e7as ligadas \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de c\u00e9lulas sangu\u00edneas. As pesquisas prosseguem, tamb\u00e9m no Brasil, e com c\u00e9lulas-tronco que n\u00e3o s\u00e3o embrion\u00e1rias.<\/p>\n

Espera-se descobrir m\u00e9todos de implante dessas c\u00e9lulas para regenerar \u00f3rg\u00e3os e tecidos. Por exemplo, o m\u00fasculo card\u00edaco, que geralmente \u00e9 lesado quando ocorre um infarto, poderia ser regenerado com c\u00e9lulas-tronco.<\/p>\n

Resumo<\/h2>\n

1 – Os folhetos embrion\u00e1rios d\u00e3o origem a \u00f3rg\u00e3os e um mesmo \u00f3rg\u00e3o pode ser formado por mais de um folheto .<\/p>\n

2 – Os genes que controlam o desenvolvimento embrion\u00e1rio s\u00e3o altamente conservados nos animais.<\/p>\n

3 – O embri\u00e3o desenvolve membranas que formam os anexos embrion\u00e1rios.<\/p>\n

4 – R\u00e9pteis e aves desenvolveram anexos embrion\u00e1rios que lhes permitiram a reprodu\u00e7\u00e3o longe da \u00e1gua.<\/p>\n

5 – O \u00e2mnio \u00e9 um anexo embrion\u00e1rio fundamental para os animais terrestres.<\/p>\n

6 – R\u00e9pteis, aves e mam\u00edferos t\u00eam embri\u00f5es com \u00e2mnio.<\/p>\n

7 – A maioria dos mam\u00edferos \u00e9 viv\u00edpara e seus embri\u00f5es recebem nutrientes da m\u00e3e por meio de uma estrutura denominada placenta.<\/p>\n

6. A placenta permite a troca de subst\u00e2ncias entre o sangue do feto e o da m\u00e3e, sem que ocorra mistura de sangue.<\/p>\n

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